Sem sal, mas com picante


O mês de Março foi e não deixou grande saudade. O mês de Abril ainda agora começou e nunca desejei tanto a época de Natal. 
Já dizia o poeta do povo… «há dias de manhã que à tarde, não se pode sair à noite».

Subir paredes já deu o que tinha a dar... dar com a cabeça na parede nem pensar, pois não sou maluco…ás vezes parece, mas não sou.

Incursões na culinária, feito ‘Chef’, também já é o habitual com ou sem isolamento social, e alguém já disse que este isolamento não me incomodará nada, pois sempre fui “bicho do buraco”… eu prefiro dizer que «são muitos anos a virar frango, ou melhor, a ver ‘The Walking Dead’».

A paciência tem limites, certo? Já tentei de tudo… dar nós em fios de azeite, cortar sombras de marmelada, gaiolas a grilos, hidro na banheira, natação na sala, zumba, coreografias novas das minhas músicas preferidas, musculação com pacotes de leite ou sacos de batata, mas… xau, já era, já não dá mais, não tenho paciência, esgotou!

Mas calma, calma que não desisto facilmente. Quem sobreviveu diversos anos de ditadura, censura, perseguição de bufos, e mais recentemente a um EAM com PCR, não é um “isolamentozinho de nada” em que não posso ir onde quero, que me vai atirar ao tapete, era o que faltava!

Confesso que foi com algum desespero que toquei à campainha da minha vizinha (eu a minha relação com as vizinhas), mas a verdade é que eu precisava mesmo de ir dar um passeio…. (Calma, calma mentes brilhantes e depravadas).
Começou por pedir desculpa por não ter atendido de imediato, mas estava a acabar uma videoconferência com colegas de trabalho… sem problema, volto mais tarde (mentiroso), disse eu. E com as devidas distâncias, sem beijinhos e abraços lá lhe disse ao que ia, perdão o que queria…

- Ó vizinha, será possível emprestar o seu cão, o Leão, para ir dar uma voltinha aqui ao quarteirão?

- O Leão  anda na rua com o vizinho (ao mesmo tempo que sorri) do andar… não sei bem o andar. Já me tinha pedido e eu não me importo nada. Aliás, cá para nós que ninguém nos ouve, o raio do cão anda muito saído… veja lá que tem reservas para passeios até à segunda quinzena de Maio! Dá para acreditar?! Não é que me importe, pois fico com mais tempo para descansar, porque mantenho os meus horários, sempre complicados…


- Pois… não tem importância, lembrei-me. Fica para uma próxima.


E lá fui eu até aos arrumos, ver se ainda tinha alguma garrafa de verde branco para colocar na geladeira, porque ao jantar vou fazer uma tarte de cenoura… sem sal, mas com bastante picante.



Cuidem-se!

Tudo de bom.